Alamy Stock Photo/Taylor Swift Productions/Silent House/Album

A estratégia de marca de Taylor Swift: um modelo para a proteção de PI de artistas

Leticia Caminero, advogada em propriedade intelectual e apresentadora do podcast Intangiblia

1 de Setembro de 2025

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Taylor Swift anunciou seu novo álbum, "The Life of a Showgirl", e tudo o que acontece nos bastidores mostra a habilidade que ela tem de aliar, com total harmonia, uma visão criativa e uma gestão estratégica de PI. Este artigo faz uma análise completa do universo de marca da artista.

Quantas marcas Taylor Swift possui?

Taylor Swift já depositou mais de 300 pedidos de registro de marca só nos Estados Unidas, por intermédio de sua empresa, a TAS Rights Management, LLC. No plano internacional, o Banco de Dados Global de Marcas da OMPI exibia 438 registros, em ao menos 16 jurisdições, no momento da redação deste artigo. Essas marcas englobam tudo desde o nome da artista e certas frases típicas até os títulos das canções e das turnês; até mesmo os nomes de seus três gatos estão registrados. Mas não se trata apenas de deter a propriedade sobre certas palavras de impacto. A estratégia, na realidade, protege a identidade da artista, reforça sua marca e permite a ela manter o controle sobre como essa marca é exibida em mercadorias, espaços digitais e experiências ao vivo.

Cada marca é uma ferramenta numa sinfonia de branding mais ampla. Seja um verso de um de seus sucessos, seja uma referência amada pelos fãs, essas marcas ajudam a garantir que qualquer coisa associada a Taylor Swift vem de Taylor Swift.

A lista de marcas Taylor Swift – O que Taylor Swift registrou?

  1. Seu nome artístico

    As marcas de Taylor Swift cobrem uma vasto leque de elementos criativos e comerciais. No centro encontra-se seu nome artístico, “Taylor Swift”, que está registrado no mundo inteiro, de forma que ela pode realmente dizer com total proteção legal, nos palcos, nas lojas e onde quer que sua marca apareça: “Este nome é meu”.

  2. Os títulos de seus álbuns – inclusive The Life of a Showgirl

    Taylor Swift registrou os títulos de vários álbuns dela, entre os quais Reputation, Lover, Evermore, Midnights, 1989 e Fearless (Taylor’s Version). Os mais recentes acréscimos a essa lista são The Life of a Showgirl e sua sigla TLOAS, com pedidos de registro de marca que abrangem tudo desde as gravações musicais até toda a linha de mercadorias. Essas marcas ajudam a proteger o visual, a sensação veiculada e a história por trás de cada álbum.

    O próprio anúncio do álbum foi um exemplo de storytelling à parte. Em vez de optar por um comunicado de imprensa convencional, Taylor Swift tirou o novo álbum de uma maleta de cor verde hortelã durante o podcast New Heights, apresentado pelo namorado dela Travis Kelce. Foi uma ação de marketing tão estratégica e teatral quanto o próprio álbum.

  3. Frases específicas de suas letras

    Algumas de suas letras e frases mais icônicas foram também registradas, entre elas: “Welcome to New York, it’s been waiting for you”, "This sick beat", “Nice to meet you, where you been?” e “The old Taylor can’t come to the phone right now”. Mais que simples versos de canções, essas frases agora fazem parte da identidade e do negócio dela.

  4. Os títulos de suas turnês

    Os títulos das turnês – como The Eras Tour, 1989 World Tour e Fearless Tour – estão também protegidos, o que confere à artista total controle sobre como essas experiências são divulgadas e vendidas.

  5. Sua base de fãs: os Swifties

    Taylor Swift tentou registrar o nome de sua base de fãs: Swifties. Embora o registro tenha sido contestado em certas jurisdições, é um gesto que demonstra como ela leva a sério a proteção da ligação que tem com os fãs.

  6. Mercadorias

    Com o crescimento de sua marca, Taylor Swift também passou a explorar novas áreas, como cosméticos, bebidas e aplicativos móveis. O Taymoji é um exemplo disso: trata-se de um aplicativo de stickers digitais baseados na personalidade e no estilo da artista. Iniciativas como essa contribuem para que sua marca vá bem além da música, e seu impacto comercial é considerável. Durante a turnê de 66 shows intitulada The Eras Tour, as vendas de mercadorias Taylor Swift totalizaram USD 440,8 milhões, com cada fã gastando em média USD 40, de acordo com a Time Magazine.

  7. Os nomes de seus gatos

    Até os gatos dela fazem parte da marca. O nome “Meredith, Olivia & Benjamin Swift” foi registrado para o uso em mercadorias oficiais, tornando os pets dela em favoritos dos fãs, como todo o amparo legal.

Juntos, álbuns, letras de canções, gatos, frases e aplicativos integram uma estratégia mais ampla. Cada marca reflete uma decisão deliberada de salvaguardar aquilo que mais importa à marca dela. Como cada produto e mensagem são cuidadosamente pensados, a experiência permanece inconfundível e autenticamente Taylor Swift.

Infográfico intitulado "O universo de marcas de Taylor Swift: Discriminação completa de suas mais de 400 marcas e os ativos que elas protegem.”
OMPI
O Banco de Dados Global de Marcas, da OMPI, revela que Taylor Swift possui mais de 400 marcas registradas, em 16 jurisdições do mundo.

É óbvio que a manutenção de todas essas marcas exige recursos. Alguns depósitos foram cancelados pela falta de uso, enquanto outros, como é o caso de Swifties, não foram aceitos em todas as jurisdições. Cada país tem sua própria legislação; logo, a equipe jurídica de Taylor Swift deve estar atenta aos prazos, à papelada exigida e aos usos não autorizados. Não é lá uma tarefa glamorosa, mas é essencial para assegurar que o nome, o estilo e a história de Taylor Swift sigam sob o controle da artista.

O caso judicial Evermore v. Taylor Swift

Uma estratégia exaustiva pode ainda encontrar desafios externos. Em 2021, após o lançamento do álbum Evermore, Taylor Swift enfrentou um litígio de marca.

O Evermore Park, parque de diversões com tema de fantasia situado estado de Utah, alegou que o título daquele álbum se assemelhava muito ao nome do parque, e acusou Taylor Swift de gerar confusão entre o público. A equipe jurídica dela reagiu rapidamente dando entrada em uma contra-ação judicial em que denunciava o uso não licenciado da música dela em espetáculos do parque.

As duas partes terminaram retirando suas respectivas ações e optando por uma resolução discreta, em vez de um litígio prolongado.

O caso demonstrou que até uma marca tão cuidadosamente elaborada como a de Swift pode ser objeto de contestações legais. Por outro lado, a resposta refletida, rápida e firme de sua equipe jurídica mostrou que os litígios de marca podem ser resolvidos de maneira eficiente.

Recuperação da propriedade com a coleção “Taylor’s Version”

As marcas conferem a Taylor Swift algo que é ainda mais valioso que a própria proteção: o poder de influência. Quando ela começou a regravar seus primeiros álbuns, cada relançamento veio acompanhado de novos depósitos de marcas distinguindo as novas versões das versões originais, que estavam sob o controle de sua antiga gravadora. Com o registro de títulos como Fearless (Taylor’s Version), Red (Taylor’s Version) e Taylor Swift "Taylor’s Version", ela estabelece um limite legal e afetivo em torno de sua própria obra.

É uma estratégia revolucionária no que diz respeito aos direitos dos artistas, pois permite a Taylor Swift reassumir o controle de suas narrativa, música e mercado. Os fãs podem assim saber exatamente qual é a versão que apoia a artista, e a estrutura jurídica dela garante que também o saibam as lojas, as plataformas e os anunciantes. A utilização da lei das marcas torna-se aqui mais que uma jogada comercial: é uma ferramenta que confere autoridade pública. Além disso, manda para a indústria – e para qualquer artista em início de carreira – o seguinte recado: ter o controle sobre seu nome e seu trabalho não é apenas uma ambição, mas algo que se pode conquistar por meio de um planejamento jurídico estratégico.

Taylor Swift recupera seus masters

Em maio de 2025, Taylor Swift comprou oficialmente as gravações masters de seus seis primeiros álbuns, da Shamrock Capital, recuperando assim total propriedade sobre a música que lançou a carreira dela. A transação inclui tudo desde faixas de álbuns até os vídeos das músicas e material não lançado. Ao anunciar a notícia, Taylor Swift expressou sua gratidão aos fãs pelo apoio ao longo de toda a sua jornada.

Foi o fim de um longo processo que teve início em 2019, quando Scooter Braun adquiriu os masters dela com a compra da Big Machine Records. Depois que os direitos foram vendidos para a Shamrock Capital, Taylor Swift lançou, num primeiro momento, uma campanha de regravações com as edições “Taylor’s Version”, a fim de reassumir o controle criativo e comercial.

No entanto, após este marco mais recente, Taylor Swift afirmou que futuras regravações, como Reputation (Taylor's Version), podem ser lançadas mais como eventos comemorativos que por necessidade, refletindo assim sua autonomia readquirida.

Fãs fazem selfies em frente a um mural colorido composto de retratos de Taylor Swift na entrada do estádio de Wembley, Reino Unido, antes de um show de 2024 de The Eras Tour.
Getty Images/Ogulcan Aksoy

O impacto de Taylor Swift para a estratégia de marca de artistas musicais

O sucesso dela não só salienta a importância dos direitos dos artistas, como também alimenta o debate sobre a propriedade intelectual na indústria da música. Ela mudou, de maneira fundamental, a maneira como os artistas pensam propriedade, marca e patrimônio, o que conduziu outras artistas como Beyoncé, Billie Eilish e Rihanna a gerir suas respectivas marcas como ativos abrangentes e multidimensionais.

A mudança está afetando toda a indústria: empresários, gravadoras e equipes jurídicas estão agora priorizando a propriedade intelectual (PI) e tratando as marcas musicais não só como uma consequência, mas como um fator fundamental de sucesso a longo prazo.

A proteção mundial das marcas de Taylor Swift

A marca de Taylor Swift é uma marca mundial, assim como sua estratégia de marca. Para simplificar o processo de proteção de direitos em vários países, ela conta com o Sistema de Madrid, da OMPI. Esse quadro internacional de proteção de marcas permite à equipe jurídica dela estender a proteção de uma marca estabelecida nos Estados Unidos para outros mercados-chave, que incluem Austrália, Canadá, China, Japão e União Europeia.

Dessa forma, as marcas foram ampliadas para abranger títulos de álbuns como Lover, Evermore, e Midnights, assim como as marcas referentes aos fãs e aquelas relacionadas com as regravações: The Eras Tour e Red (Taylor’s Version).

As marcas dela também englobam uma vasta linha de produtos e serviços, que inclui roupas, gravações musicais, material impresso, conteúdo digital e até mesmo objetos domésticos. Essa é uma abordagem inteligente e rentável, que assegura uma proteção de marca mundial e consistente, especialmente em torno do lançamento de álbuns e de turnês internacionais.

O valor de um plano de registro de marcas estratégico

A estratégia de Taylor Swift em matéria de marcas ilustra como a previdência jurídica e a visão de marca podem harmonizar-se para formar algo muito mais vasto que a proteção comercial. Desde as letras das primeiras canções até as mais recentes iniciativas comerciais, cada marca constitui uma nota em um modelo cuidadosamente orquestrado, que protege o patrimônio da artista, amplifica sua mensagem e cultiva a ligação dela com milhões de fãs em todo o mundo.

O que diferencia Taylor Swift é o volume de suas marcas e a finalidade de cada uma delas. Ela registra marcas com intenção, ancorando cada ideia, letra de canção e reinvenção em uma estrutura que lhe permite evoluir sem perder o controle. Para os fãs, isso significa que cada produto, plataforma e experiência que levem o nome dela são autênticos, autorizados e têm suas raízes na voz dela. Para outros artistas, ela demonstra que criatividade e estratégia podem coexistir e que proteger a identidade do artista não é uma opção, mas algo essencial.

Sobre a autora

Leticia Caminero é advogada especializada em propriedade intelectual com mestrado em direito (LLM - Master of Laws) pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Natural da República Dominicana, Leticia Caminero está atualmente estabelecida em Genebra, Suíça, onde atua como membro da equipe de Comunicação Online da OMPI e como gerente de projetos credenciada. Leticia é a apresentadora de seu próprio podcast Intangiblia, que divide conceitos complexos de PI em pequenas partes, e já publicou artigos em várias revistas de direito, em espanhol e em inglês.

A autora agradece a Virginie Roux e a Elisabeth Josa Valarino, da OMPI, pela ideia original deste artigo e pela contribuição para afinar a abordagem.

Para mais conteúdo relacionado com música, acesse a Edição Especial Música da Revista da OMPI . A edição está disponível na íntegra para download no formato PDF.