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Preservando o patrimônio cultural sérvio: o caso dos tapetes “kilim de Pirot”

Setembro de 2022

Vladimir Marić, diretor do Instituto de Propriedade Intelectual da República da Sérvia

Os produtos com indicação geográfica de origem devem suas características especiais ao lugar onde são produzidos. São o resultado de tradições cultivadas ao longo de séculos pelos habitantes de uma determinada localidade, cujos conhecimentos e habilidades foram sendo transmitidos de geração a geração.

Os tapetes são tipicamente produzidos por mulheres, que aprendem essa arte com suas antepassadas. Tecer um “kilim de Pirot” é uma atividade árdua, mas, felizmente, as mulheres que se dedicam a essa tecelagem hoje em dia gozam de maior segurança econômica do que suas predecessoras. (Foto: © Slavica Ćirić)

Os tapetes, ou kilim, produzidos em Pirot, cidade situada no sudeste da Sérvia, são fruto de uma tradição desse tipo, refletindo o rico patrimônio cultural e histórico das tecelãs da cidade e o valor de sua arte, que merece ser preservada e promovida. Foi por isso que em 18 de junho de 2012, por decisão do Comitê Nacional do Patrimônio Cultural Intangível da República da Sérvia, a tecelagem kilim de Pirot foi incluída na lista nacional do Patrimônio Cultural Intangível da República da Sérvia, sob proteção da UNESCO.

Uma breve história do “kilim de Pirot”

A cooperativa das tecelãs de kilim de Pirot, primeira manufatura organizada desse tipo de tapete, foi fundada há 122 anos, mas a tecelagem de kilim em Pirot data do século IX d.C. Com seus lindos motivos de cores vivas, os “kilim de Pirot” são mundialmente reconhecidos por sua beleza e qualidade.

Esses tapetes de alta qualidade conquistaram reconhecimento mundial entre o fim do século XIX e o início do XX, tendo sido premiados nas exposições universais de Lyon, em 1894, e de Liège, em 1905. Depois disso, as portas dos mercados norte-americano e britânico se abriram para os tapetes kilim. Durante a Exposição dos Países dos Balcãs, realizada em Londres, em 1907, a imprensa registrou: “No palácio de Buckingham, os belíssimos kilim de Pirot tiveram um êxito indescritível! Os ingleses estão verdadeiramente deslumbrados”, recorda a autora Žikić Vitković em seu livro Pirot’s Carpet.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), estabeleceram-se os padrões de qualidade – similares aos que hoje regulam os critérios de indicação geográfica – para a produção dos “kilim de Pirot”. Em 1925, foi criada a Comissão de Avaliação da Cooperativa de Tecelagem Kilim. Seu papel era garantir que o desenho, as cores e os materiais usados na produção dos tapetes kilim estavam de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos.

Com seus lindos motivos de cores vivas, os ‘kilim de Pirot’ são mundialmente reconhecidos por sua beleza e qualidade.

No período entreguerras, a Cooperativa de Tecelagem Kilim de Pirot conquistou mais de 50 prêmios e medalhas em eventos internacionais e nacionais, como o primeiro lugar na Exposição Internacional de Arte e Tecnologia de Paris, em 1937. De meados dos anos 1950 a meados da década seguinte, a tecelagem kilim continuou a vicejar em Pirot, com encomendas provenientes de países como Áustria, Finlândia, Japão, Itália, Países Baixos, Suíça e Alemanha Ocidental.

As tecelãs continuam a usar a melhor qualidade de lã para tecer os “kilim de Pirot”. No processo de tecelagem, a urdidura (fios que se estendem longitudinalmente no tear) é formada por fios de lã branca de ovelhas da raça pramenka, atualmente sob ameaça de extinção, que pastam em campos ao redor de Pirot. Para se tecer um “kilim de Pirot” padrão (que mede 1,4 metro por 2 metros), é necessário fiar a lã de pelo menos nove ovelhas pramenka. Essas ovelhas costumam produzir lã de alta qualidade, com fios compridos e de fácil processamento. Com 300 quilos de lã crua se produzem, em média, 100 quilos de fios de alta qualidade, que contribuem para a durabilidade dos “kilim de Pirot”.

Motivos geométricos atemporais

Os desenhos de formas concêntricas que há séculos caracterizam os tapetes kilim de Pirot remetem aos encontrados nas cerâmicas do Egito Antigo, em vasos cipriotas e até mesmo nos kilim do povo Navajo, da América do Norte. Trata-se de um reflexo das muitas e variadas influências que foram moldando essa tradição ao longo do tempo. A simetria de formas e padrões estritamente geométricos confere atemporalidade aos “kilim de Pirot”. Seus motivos gráficos consistem sobretudo em formas abstratas, ornamentais, mas também reproduzem fenômenos naturais e, ocasionalmente, símbolos religiosos. Os tons de vermelho, azul e verde que predominam nesses tapetes são fascinantes.

As tecelãs sérvias tradicionalmente exibem uma imaginação incrível, tecendo desenhos, formas e cores que fazem dos “kilim de Pirot” obras de beleza única, que jamais perdem o seu encanto. Ao longo da história, os “kilim de Pirot” vêm servindo de adorno em palácios e residências de altas autoridades, assim como em locais de culto.

A única ferramenta usada pelas tecelãs é a tupica (à esquerda), que lhes permite bater os fios da trama para baixo. (Foto: © Slavica Ćirić)

As mulheres no centro da tecelagem kilim

Símbolo formidável da tradição folclórica sérvia, os tapetes kilim são tipicamente produzidos por mulheres, que aprendem essa arte com suas antepassadas e, em geral, trabalham em condições desafiadoras. Ainda hoje, tecer um “kilim de Pirot” é uma atividade árdua. Atualmente, uma tecelã da Cooperativa do Coração de Maria (única autorizada a usar a indicação geográfica (IG) “Kilim de Pirot”) trabalha, em média, 176 horas (oito horas por dia, durante 22 dias do mês) para tecer apenas 0,8 m2 de tapete.

Felizmente, as mulheres que se dedicam à tecelagem de tapetes kilim hoje gozam de maior segurança econômica do que suas predecessoras. Esse é um fator muito importante para atrair para o ofício novas tecelãs e manter viva a produção desses tapetes deslumbrantes.

Slavica Ćirić, diretora da Cooperativa do Coração de Maria, explica os pré-requisitos que as tecelãs dos “kilim de Pirot” devem preencher:

“As mulheres que querem trabalhar como tecelãs precisam dominar a técnica de tecelagem e devem ser extremamente habilidosas. Precisam ter verdadeira predisposição genética para o ofício e ser muito focadas, pois passam o dia inteiro às voltas com contas, planejamento, lógica e matemática. Devem ter excelente memória também, pois não se trata de tomar notas, não há como anotar, é preciso ter tudo o tempo inteiro na memória. Por fim, e acima de tudo, elas precisam ter boa saúde, pois trabalham sentadas em um banco baixo junto ao tear, com os joelhos flexionados, a coluna ereta e as mãos constantemente em movimento, o tempo todo correndo o risco de cortar as pontas dos dedos, uma vez que os fios da urdidura, feitos de lã de ovelhas pramenka, parecem lâminas de tão afiados.”

A certificação de indicação geográfica ajuda a manter vivas as tradições locais e protege as tecelãs autorizadas contra o uso não autorizado do selo de IG.

Tecendo um “kilim de Pirot”

Há mais de um século, todos os “kilim de Pirot”, seja qual for o seu tamanho, são tecidos como um único tapete em teares verticais. Durante a tecelagem, o tear é rotacionado de tempos em tempos, impedindo que a tecelã tenha uma visão completa do que está tecendo e, portanto, obrigando-a a confiar na memória para visualizar os complexos motivos que irão compor o tapete. As tecelãs adotam uma técnica postural que faz com que elas fiquem ajoelhadas enquanto tecem, e a única ferramenta que usam é a tupica, que lhes permite bater os fios da trama para baixo. Os tapetes apresentam tipicamente duas faces de igual qualidade e beleza.

Em 2003, o Instituto de Propriedade Intelectual da Sérvia reconheceu a expressão “Kilim de Pirot” como uma indicação geográfica (IG). Essa IG abrange tapetes, cobertores, cortinas, tapeçarias e outros têxteis domésticos. Com a obtenção da indicação geográfica, os tapetes e outros têxteis kilim produzidos nessa cidade histórica tornaram-se propriedade intelectual da população de Pirot.

Os benefícios da certificação de indicação geográfica

(Foto: © Slavica Ćirić)

Com a certificação de indicação geográfica, apenas os kilim tecidos por tecelãs autorizadas podem ser comercializados como “kilim de Pirot”. A autenticidade e a qualidade dos têxteis que exibem o selo de IG é garantida. Dessa forma, a certificação de IG garante a confiança dos consumidores, que têm certeza de estarem adquirindo um genuíno “kilim de Pirot”. Por sua vez, isso gera importantes benefícios para as tecelãs locais, ampliando a demanda interna e externa por seus tapetes de alta qualidade e permitindo que elas tomem medidas contra imitações de baixa qualidade.

A certificação de IG ajuda a manter vivas as tradições locais e protege as tecelãs autorizadas contra o uso não autorizado do selo de IG. A proteção legal vai além do combate à pirataria, pois implica também a obrigação, da parte de todas as tecelãs autorizadas, de manter os padrões de qualidade estabelecidos.

Ao registrar a indicação geográfica “Kilim de Pirot”, o Instituto de Propriedade Intelectual da Sérvia colaborou com as tecelãs locais na elaboração de um “manual de especificações”, em que são definidas as características essenciais dos “kilim de Pirot” e os elementos que fazem desses artigos um produto único de etnomanufatura. Além de descrever a técnica de tecelagem, a qualidade da lã utilizada na urdidura, os motivos característicos dos tapetes kilim e as cores usadas nos fios da trama, o manual também dispõe sobre outras especificações, como o uso obrigatório de teares verticais, a técnica postural adotada pelas tecelãs e métodos de controle de qualidade.

No passado, os cânones da tecelagem kilim eram ditados pela tradição e pela lei não escrita da arte das tecelãs, resultando em produtos de qualidade variável. Atualmente, graças em grande medida à certificação de IG, os “kilim de Pirot” precisam respeitar os padrões de qualidade estabelecidos.

No momento, a Cooperativa do Coração de Maria é a única usuária autorizada da identificação geográfica “Kilim de Pirot”. Muitos usuários anteriores perderam essa condição, ao que tudo indica em razão do alto custo da certificação e da relutância em respeitar as regras relativas à preparação, produção e venda dos produtos certificados pela IG. O fenômeno parece se repetir com produtores de outros artigos certificados com IG na Sérvia. No entanto, a experiência de produtores de artigos com certificação de IG em outras partes do mundo sugere que as exigências que regulam o uso das indicações geográficas podem ter um impacto econômico positivo na produção desses artigos, desde que ajustadas de forma a garantir que os usuários tenham condições de cumprir as condições estabelecidas, obtendo assim o direito de usar a IG. Contudo, esse não tem sido o caso da produção dos “kilim de Pirot”, que atualmente depende do financiamento de fontes públicas e privadas.

Desde 2009, embora a demanda pelos “kilim de Pirot” seja maior que a capacidade de produção das tecelãs da cidade, não surgiram novos produtores com condições de se qualificar como usuários autorizados da indicação geográfica “Kilim de Pirot”. Essa lacuna representa uma ameaça à sustentabilidade da produção dos tapetes kilim em Pirot e tem suscitado uma reflexão cuidadosa sobre o que precisa ser feito para reavivar e sustentar essa arte.

“O propósito do nosso trabalho é preservar a tecelagem kilim em Pirot por meio do desenvolvimento sustentável e da expansão de nossa capacidade de produção, de modo que as receitas das vendas de kilim possam ser reinvestidas no financiamento da ampliação da produção e, ao mesmo tempo, gerem uma remuneração adequada para as tecelãs”, afirma Ćirić, que também enfatiza a necessidade de que sejam organizados workshops de treinamento para formar a próxima geração de tecelãs.

A identificação geográfica “Kilim de Pirot” faz parte da identidade nacional sérvia. Os “kilim de Pirot” têm excelente reputação e grande valor comercial. Ao promover ativamente esses têxteis de alta qualidade, o governo sérvio ajuda a garantir que as tecelãs de Pirot vivam com maior segurança econômica e possam colher os frutos de seu trabalho. A certificação também contribui para a preservação dessa arte admirável para as gerações futuras. Atualmente, muitos países buscam desenvolver estratégias que lhes permitam usufruir dos benefícios econômicos, sociais e culturais da produção de artigos com indicação geográfica. É importante que a Sérvia também atue nesse sentido.

A Revista da OMPI destina-se a contribuir para o aumento da compreensão do público da propriedade intelectual e do trabalho da OMPI; não é um documento oficial da OMPI. As designações utilizadas e a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião da parte da OMPI sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, ou área ou as suas autoridades, ou sobre a delimitação das suas fronteiras ou limites. Esta publicação não tem a intenção de refletir as opiniões dos Estados Membros ou da Secretaria da OMPI. A menção de companhias específicas ou de produtos de fabricantes não implica que sejam aprovados ou recomendados pela OMPI de preferência a outros de semelhante natureza que não são mencionados.